As empresas, universidades, governos e sociedade civil do Amazonas precisam trabalhar juntas e integradas para fortalecer a indústria incentivada de Manaus e inseri-la na quarta revolução industrial. É o que defende, em síntese, o professor de graduação e pós-graduação da Ufam, Jorge Campos. Ele apresentou suas ideias na palestra que tratou do tema “Clusterização industrial: uma proposta para o Polo Industrial de Manaus”, realizada no âmbito da Feira do Programa Qualidade Amazonas, nesta quinta (19).
De 18 a 20 de outubro, a Feira do Programa Qualidade Amazonas apresentou aos visitantes uma programação é vasta e diversificada. A programação incluiu palestras com personalidades nacionais, além empresários e acadêmicos de destaque. Contou ainda com uma mostra das 56 empresas que concorrem ao Prêmio PQA (Prêmio Qualidade Amazonas) 2023 e estandes das organizações presentes. A iniciativa é da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), por meio do Dampi (Departamento de Assistência à Média e Pequena Indústria), em parceria com o Sebrae-AM (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa – Seção Amazonas).
Jorge Campos é graduado em administração, com mestrado na mesma área, além do doutorado em logística de transporte, ele é especialista em engenharia de produção, e consultor em logística da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina. Baseado em um artigo científico apresentado no pós-doutorado que realizou no ano passado, em Coimbra (Portugal), o acadêmico buscou, inicialmente, apresentar ao público o conceito de clusterização.
“Minha palestra apresentou as experiências e aplicações dessa estratégia na França e da Alemanha. A partir daí, apresentei uma proposta para fortalecer o Polo Industrial de Manaus, que é nosso principal sustentáculo econômico. A clusterização consiste na maior integração das empresas já existentes com outros stakeholders, como universidades, centros de pesquisa, pequenas e médias empresas. Daí a ideia é nós formarmos um aglomerado, para objetivos comuns e produção de novas tecnologias”, explicou.
Quarta revolução
De acordo com o acadêmico, foi feita uma “análise muito criteriosa” sobre os processos de industrialização nos dois países europeus, com a utilização de clusters como estratégia básica para organização do setor. “Isso produziu tantas tecnologias que, em 2011, a Alemanha definiu que já estávamos vivendo a quarta revolução industrial. A França acompanhou essa caminhada na aplicação de cluster na organização de se parque industrial. Foi o segundo país tecnologicamente avançado e economicamente desenvolvido a fazer isso”, reforçou.
O professor da Ufam explica que cluster significa literalmente “aglomeração ou junção” e acrescenta que a diversidade de segmentos industriais do PIM, que incluem os segmentos de duas rodas, metal mecânico, eletroeletrônico ou de bens de informática, apresenta as condições para a implementação da estratégia em âmbito local.
“Isso implicaria na integração de nossos principais stakeholders, incluindo o Distrito, as microempresas, as instituições do ensino superior, o governo federal, os governos regionais e os centros de pesquisa. Aí, se vai definir objetivos comuns, que podem ser o desenvolvimento de novas tecnologias, até para acompanhar o que estamos vivendo hoje. Também pode ser para prospectar novos mercados, porque, se vou fazer isso, tenho de pensar em um mercado consumidor”, destacou.
“Segmentos muito distantes”
Segundo Campos, a indústria da Zona Franca de Manaus já apresenta muitos elementos necessários que essa estratégia seja aplicada também em âmbito local. “Nós temos no Distrito Industrial, que é uma área geográfica com empresas estabelecidas já atuando. Temos também faculdades e universidades; políticas de financiamento; políticas públicas de processo industrial; e pequenas e médias empresas. São componentes importantes”, listou.
Na análise do especialista, falta apenas um componente importante para tirar essa ideia do papel, que é justamente a integração de todas essas organizações da sociedade civil do Amazonas.
“O que as instituições de ensino superior fazem atualmente é apenas formar mão de obra para o PIM. Se buscarmos integrar esses diversos stakeholders, podemos construir clusters com resultados altamente positivos para o Amazonas. Um deles seria a formação de capital intelectual de alto nível, adaptado para produzir tecnologias disruptivas”, apontou.
O acadêmico conta que passou quase 20 anos dentro do Distrito Industrial, e que está quase 30 no ensino superior. Baseado nessa experiência, ele diz que tem conhecimento de necessidades do PIM que as instituições podem atender.
“Há também, dentro das universidades e faculdades, necessidades que poderiam ser atendidas pelas empresas, como o financiamento de projetos. Mas, são segmentos de nossa economia que estão muito distantes um do outro e não se conversam. E nós pagamos um preço por isso”, lamentou.
Campos argumenta que a alternativa da clusterização se torna ainda mais importante enquanto o Estado não consegue desenvolver a contento outros modelos de desenvolvimento que se somem à ZFM e aproveitem a biodiversidade amazônica.
“Como palestrante, esta é a primeira vez que participo da Feira. Nossa intenção é criar uma massa crítica. Precisamos que nossos alunos universitários, professores e empresários conheçam o projeto, pelas vantagens que a clusterização pode trazer. Enquanto se busca encontrar um novo vetor econômico para o Estado, estamos apresentando uma estratégia para o fortalecimento do PIM”, finalizou.