Amazonas

”Visionário, sonhador, realizador”, disse filha de Aluízio Nostalgia em despedida do pai

Último adeus ao empresário conhecido também como o Rei da Noite de Manaus, teve agradecimentos emocionantes, cortejo em frente ao antigo Nostalgia, e canções que marcaram sua trajetória

Foi ao som de canções como “Vá com Deus”, música de Roberta Miranda, que amigos e familiares se despediram do empresário Aluízio Augusto Jackmonth da Costa, 74 anos, neste sábado (23). Conhecido como o Rei da Noite de Manaus, apelido dado pelo cantor Elymar Santos, o cortejo de Aluízio Nostalgia, passou em frente ao antigo clube no bairro Cachoeirinha, point na década de 90, que levava moradores de todos os cantos de Manaus e do Brasil à Zona Sul da cidade, especialmente aos domingos.

Antes e depois do percurso, nas redes sociais, na imprensa, nas coroas de flores, as homenagens ficaram por conta dos relatos emocionantes de amigos e familiares.

“Vô, sua voz grossa e ao mesmo tempo bem baixinha para sempre ecoarão nos meus ouvidos. Quando contava piadas; quando falava que era “tio” e não “avô”; quando reclamava de qualquer técnico que estivesse no comando do Fluzão, seu time preferido; quando me levava para o sítio do tio Ronaldo para jogar bola e contava as suas histórias de vida, confessava as suas preocupações; quando viajamos a última vez de BH para Manaus, ano passado, e o senhor me contou quase toda a sua trajetória na vida noturna. Acho que seria uma boa parte do livro que o senhor queria escrever, né?”, falou emocionado o neto Fellipe da Costa.

E a trajetória de Aluízio Nostalgia que, viraria ou virará um livro, foi lembrada por amigos como Sebastião Gato que trabalhou com ele em quase todas as casas noturnas. A relação ultrapassou a linha profissional.

“Certa vez precisava trazer meu pai que morava em Parintins e estava muito doente. Eu não tinha ninguém para me substituir e ele disse: ‘a vida do teu pai é mais importante que isso aqui (Nostalgia). Se eu precisar fechar esta casa para ajudar a salvá-lo, fecharei’. Aluízio era assim, mesmo. Às vezes ele estava com alguma preocupação e se trancava no escritório dizendo que precisava falar com a mãezinha dele. Quando voltava vinha cheio de ideias. Ele tinha uma fé impressionante”, disse Gato.

E foi sobre a fé de Aluízio em Deus, devoção à Nossa Senhora e amor pela família, as palavras do amigo, diácono e capelão da funerária Canaã, Ronnie Steffen.

“Aluízio vai com Deus no coração. Como todos nós, tinha seus defeitos, problemas, mas ele tinha temor a Deus. Por muitas vezes conversava comigo e ele sempre pedia orações por sua família, por seus amigos”, lembrou.

Generosidade

Da rua para a função de garçom e depois apresentador. É disso que se lembra o comunicador, José Gracy.

“Comecei a trabalhar com Aluízio aos 14 anos. Eu era um menino que morava na rua e não tinha apoio de ninguém. Ele me deu a oportunidade de trabalhar com ele, primeiro como garçom no bar que ficava na frente do Nostalgia. Lá fiquei até os 19 anos e depois comecei apresentando os eventos da casa. Ele pagou minha faculdade. Hoje, tudo que sou devo a Deus e a ele, anjo do Senhor em meu caminho”, disse o ‘Meu Estresse’, como Aluízio o chamava.

A generosidade do apresentador também foi evidenciada por Rodolfo Marinho, amigo do empresário.

“Nos últimos cinco anos eu tive cinco cânceres. E toda vez que eu estava em tratamento ele me ligava, mandava mensagens, me perturbava porque eu não queria atender ninguém, mas ele mandava eu atender o telefone. Amigos de muitos anos não fizeram nem a metade do que ele fez. Ele me motivou, me mostrou coisas que eu não via. E, graças a ele, eu tenho hoje novos amigos. Ele deixa uma família muito maravilhosa. Obrigado, amigo!”, agradeceu.

Legado

O empresário e gastrônomo, Aluízio Augusto Jackmonth da Costa, tinha 74 anos e morreu em virtude da saúde debilitada.

Conhecido como o Rei da Noite Manauara ou Aluízio do Nostalgia, ele teve importante contribuição na cultura e economia do Amazonas, promovendo shows, gerando emprego e renda a centenas de famílias.

Além do Nostalgia, por onde passaram grandes artistas do cenário local, nacional e internacional, o empresário também foi proprietário do Sucata Drinks, Heaventure, Chamego Clube, Passatempos, Tropical Show Clube, Zazoeira, Saturno, Noturno, Sol de Verão e Sintonnia Pub.

Seu legado profissional segue por meio do trabalho de seu filho, Arnaldo Neto, da Sintonnia Artística, empresa que ajudou a fundar, há 15 anos.

“Aluízio Jackmonth ou Aluízio Nostalgia…. Meu pai, meu guerreiro, meu amor, exemplo de vida descansou na Paz do Senhor! Estaremos aqui sempre ti orgulhando e levando teus ensinamentos pra toda vida. Obrigado pelas lições e exemplos de honestidade, dignidade, perseverança e resiliência que o senhor nos deixou. Te amaremos eternamente!”, escreveu Arnaldo Neto.

Além dele, Aluízio foi pai de mais seis filhos: Andreza, Aluízio Augusto Jr, Roberto de Jesus e Rodrigo Câmara da Costa (In memoriam), Monique Pontes da Costa e Diego Augusto Espíndola da Costa, alguns lhe deram 11 netos.

“Meu pai era visionário, sonhador e realizador. E esta jornada que passamos com ele, que começou em março, nos deu a oportunidade de conhecê-lo ainda mais. Foi um momento difícil, mas Deus sabe o que faz e, de alguma forma, ele ficou ainda mais próximo de nós. Cada um de nós viveu uma jornada com ele neste tempo desafiador. A gente sempre lembrava do mandamento ‘Honrar Pai e Mãe’, o que às vezes é muito fácil quando os pais estão com saúde. Ele sempre estará em nossos corações. Descansa, seu Aluísio, porque agora o senhor volta para a casa do Pai e não há lugar melhor no mundo”, resumiu a filha Andreza Câmara da Costa.

Os últimos minutos das homenagens culminaram com as canções preferidas do Aluízio cantor, faceta esta conhecida, principalmente, por quem frequentava os boleros promovidos por ele. Além de “Vá com Deus”, da amiga Roberta Miranda, uma música da Jovem Guarda marcou sua vida.

“Me abrace sem chorar, sem lenço branco na partida. Eu também vou tentar sorrir em nossa despedida. Não fale agora. Não há mais nada”, diz um dos versos da canção “O Show Já Terminou”, de Roberto Carlos, a saideira dos muitos shows de Aluízio Nostalgia.

Fotos: Arquivo pessoal

Texto: Ed Blair

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