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Violência contra a criança aumenta na Pandemia

Em meio à pandemia e ao isolamento social, os registros de violência física, sexual e psicológica contra as crianças aumentaram exponencialmente, o que parece contraditório, já que a maior parte está em casa, local em que, teoricamente, estariam mais protegidas.

A pandemia de covid-19 escancarou os casos de agressões e abusos sexuais contra crianças. Impossibilitados de fechar as portas ou fazer o isolamento social, os conselhos tutelares de todas as regiões da cidade de São Paulo viram o número de denúncias de violência infantil crescer exponencialmente. De acordo com dados do Conselho Tutelar do Rio Pequeno e Raposo Tavares, na zona oeste da cidade, levantados a pedido da reportagem, em fevereiro desse ano, o número de denúncias foi 12 vezes maior do que no mesmo período do passado. Em 2020, foram registradas duas ocorrências, enquanto em fevereiro deste ano, esse número saltou para 24.

Isso significa dizer que houve um aumento de 1.100% em casos de maus-tratos e violência sexual contra crianças nessas regiões. Em janeiro, o número de casos foi 6,5 vezes superior ao mesmo período em 2020, o que representa um crescimento de 650%.

Antes da pandemia do novo coronavírus, as escolas eram os principais locais onde um indício de mau trato ou abuso sexual percebido. “Quando os casos chegavam até nós, a violência ainda não tinha ocorrido. Hoje, como a maior parte das crianças está afastada das escolas, quando ficamos sabemos, o abuso já aconteceu”, diz o especialista Deziatto. O advogado especialista em direitos da criança e do adolescente, Ariel de Castro Alves, explica que a prevenção é um importante trabalho realizado por profissionais de escolas e creches, quando verificam mudanças de comportamento, lesões corporais, falta de higiene e alimentação ou recebem relatos de estudantes.

Para advogada e especialista em políticas públicas da UFABC, Silvia Abud, além do abuso sexual, da violência e trabalho infantil, as crianças ficam expostas a fatores de risco como exploração sexual, gravidez na adolescência e insegurança alimentar. “A violência gera um impacto no desenvolvimento cognitivo, emocional e no aprendizado. Há um aumento no risco de desenvolver doenças mentais, cardíacas”, diz. “Com a evasão escolar, especialmente daqueles que são mais vulneráveis, há uma ampliação das desigualdades. Isso demandará do Estado a ampliação de serviços públicos de setores como saúde, educação, assistência social, trabalho e renda.”

Para dar conta da alta demanda, os conselhos tutelares precisam de uma rede de serviços estruturada. Além disso, devem também acionar os serviços públicos de centros de apoio psicossociais, programas de apoio e orientação às famílias, por meio dos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), o primeiro responsável pela prevenção de situações de vulnerabilidade social e risco nos territórios e o segundo pelas consequências e acompanhamento das famílias e indivíduos que já tiveram seus direitos violados.

Essa realidade demonstra a necessidade de reflexão sobre conceitos e paradigmas socialmente impostos na construção da identidade masculina. E tais reflexões são emergenciais, pois não temos dúvidas dos efeitos desse período na vida das crianças, nas nas vulnerabilidades e traumas originados pela violência ocorrida durante a pandemia.

DISQUE 100 – DISQUE DIREITOS HUMANOS
Número da Secretaria de Direitos Humanos recebe denúncias de forma rápida e anônima e encaminha o assunto aos órgãos competentes no município de origem da criança ou do adolescente. Disque 100 de qualquer parte do Brasil. A ligação é gratuita, anônima e com atendimento 24 horas, todos os dias da semana.

Evi Goffin

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