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Velocidade do avanço dos militantes pegou as mulheres de Cabul desprevenidas, além de muito preocupadas.

Algumas mulheres disseram que não tiveram tempo para comprar uma burca para cumprir as regras do Talibã de que elas devem ficar cobertas e serem acompanhadas por um parente do sexo masculino quando saem de casa.

Para as mulheres do Afeganistão, o tecido esvoaçante representa a perda repentina e devastadora de direitos conquistados ao longo de 20 anos – o direito de trabalhar, estudar, se mover e até mesmo viver em paz – que elas temem nunca mais serão reconquistados.

Desconfiança profunda
Quando o Talibã governou o Afeganistão pela última vez entre 1996 e 2001, as escolas foram fechadas para as meninas e as mulheres foram proibidas de trabalhar.

Depois da invasão dos Estados Unidos em 2001, as restrições diminuíram e, mesmo com o avanço da guerra, um compromisso local para melhorar os direitos das mulheres, apoiado por grupos internacionais e doadores, levou à criação de novas proteções legais.

Em 2009, a lei da Eliminação da Violência contra as Mulheres criminalizou o estupro, a agressão e o casamento forçado e tornou ilegal impedir que mulheres ou meninas trabalhassem ou estudassem.

Desta vez, o Talibã está prometendo formar um “governo islâmico inclusivo no Afeganistão”, embora não esteja claro que forma isso ocorrerá e se a nova liderança incluirá mulheres.

Farzana Kochai, que era membro do parlamento afegão, diz que não sabe o que vem a seguir. “Não houve um anúncio claro sobre a forma de governo no futuro. Será que teremos um parlamento no futuro governo ou não?”, questionou.

Ela também está preocupada com suas liberdades futuras como mulher.

O porta-voz do Talibã, Suhail Shaheen, disse na segunda-feira (16) que, sob o governo do Talibã, as meninas terão permissão para estudar. “As escolas serão abertas e as meninas e as mulheres irão para as escolas, como professoras, como alunas”, declarou.

Entretanto, as histórias dos moradores locais pintam um quadro diferente – e há uma profunda desconfiança nos militantes que causaram tanta tristeza durante seu último governo.

Em julho, a Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão disse que em áreas controladas pelo Talibã as mulheres receberam ordens de não comparecer aos serviços de saúde sem um tutor. A TV foi proibida e professores e alunos foram instruídos a usar turbantes e deixar a barba crescer.

Segundo a comissão, acadêmicos religiosos, funcionários do governo, jornalistas, defensores dos direitos humanos e mulheres foram vítimas de assassinatos seletivos. Uma delas foi Mina Khairi, uma jovem de 23 anos morta em um carro-bomba em junho. Seu pai, Mohammad Harif Khairi, que também perdeu a esposa e outra filha na explosão, disse que a jovem jornalista vinha recebendo ameaças de morte há meses.

Quando o Talibã controlou o Afeganistão pela última vez, as mulheres que desobedeceram às ordens foram espancadas.

Alta nos preços das burcas
A conquista do país pelo Talibã foi tão rápida que algumas mulheres se viram sem o uniforme feminino necessário para o governo talibã.

Uma mulher, que não foi identificada por motivos de segurança, disse que sua casa tinha apenas uma ou duas burcas para dividir entre ela, sua irmã e sua mãe. “Se a situação piorar ainda mais e não tivermos burca, teremos que conseguir um lençol ou algo parecido para torná-lo uma cobertura maior”, explicou.

O preço das burcas subiu até dez vezes em Cabul, já que as mulheres correram antes do avanço dos militantes, de acordo com outra fonte, que também não foi identificada por motivos de segurança. Algumas não chegaram aos mercados antes de fecharem no domingo, enquanto os donos das lojas corriam para voltar para casa.

Ela disse que passou horas em um banco no domingo tentando sacar o máximo de dinheiro possível para ver a família nos próximos dias de incerteza.

Ela teme por sua vida, mas também pelo colapso de um governo que o povo lutou tanto para construir e pelo fim das liberdades para as mulheres afegãs.

“Como mulher, eles apenas nos mantêm dentro de casa. Lutamos anos para sair, precisamos lutar de novo pelas mesmas coisas? Para ter permissão para trabalhar, permissão para ir ao hospital sozinha?”, perguntou.

Tudo por nada”
Nos últimos dez dias, uma sucessão de vitórias do Talibã em dezenas de capitais de província levou as mulheres afegãs para mais perto de um passado que elas queriam desesperadamente deixar para trás.

Pashtana Durrani, fundadora e diretora executiva da Learn, uma organização sem fins lucrativos focada na educação e nos direitos das mulheres, disse que seus olhos estão secos de chorar por seu país.

“Eu chorei tanto que não há mais lágrimas para lamentar. Há faz tempo que lamentamos a queda do Afeganistão. Portanto, não estou me sentindo muito bem. Pelo contrário, estou bem desesperada”, disse.

Durrani disse que recebeu mensagens de texto de meninos e meninas desesperados porque os anos de estudo foram “em vão”.

Ela disse que o Talibã continua falando sobre a educação das meninas, mas não definiu o que isso significa. Os estudos islâmicos devem ser mandatórios, “mas e a educação de gênero? E a educação profissional?”, questionou. “Se a gente pensar muito, perde a esperança, porque não há resposta para isso.”

Em um tuíte, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, pediu o fim de todos os abusos. “O Direito Internacional Humanitário e os direitos humanos, especialmente os ganhos duramente conquistados por mulheres e meninas, devem ser preservados”, afirmou.

Em cenas caóticas no aeroporto de Cabul na segunda-feira (16), afegãos desesperados escalaram uma ponte na tentativa de embarcar em aviões para fora do país. Mas, para muitos milhões de pessoas, não há como escapar.

A mulher em Cabul que passou horas no banco no domingo disse que, mesmo que conseguisse um voo, ela não tinha para onde ir pois não tem visto. A única outra opção era ficar dentro de casa e torcer para não chamar a atenção.

“Sair ou fazer qualquer outra coisa pode colocar nossas vidas em risco”, afirmou.

Enquanto os governos dos Estados Unidos e seus aliados evacuavam suas equipes no país, Patricia Gossman, diretora associada para a Ásia da Human Rights Watch, pediu aos doadores internacionais que não abandonem o Afeganistão.

“Muitíssimas pessoas não podem sair e terão grande necessidade tanto de assistência humanitária urgente quanto de outros serviços essenciais como a educação. É a hora errada agora para os doadores dizerem que o trabalho no Afeganistão está acabado”.

Mulheres em todo o país vivem com medo da mesma batida na porta que Najia ouviu no mês passado. A filha dela, Manizha, disse que não voltou para casa desde a morte da mãe. De qualquer forma, ela não sai muito.

“O Talibã não deixa nenhuma mulher sair sem um parente do sexo masculino. Os homens são os únicos autorizados a sair. Eles podem ir trabalhar”, contou.

“Se eu precisar de algo, como vou conseguir? É uma punição. Não é o Islã. Eles se autodenominam muçulmanos. Não é certo que eles punam as mulheres”.

WSP
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