Após a repercussão negativa da live realizada pela secretária de Educação de Goiás, Fátima Gavioli, a professora que fez uma pergunta sobre o acompanhamento aos filhos em consultas médicas afirma que teve o contrato rescindido na última segunda-feira (28/10).
Durante a live, a professora Roberta Batista da Silva, 28 anos, questionou se os docentes que têm contrato poderiam acompanhar filhos em consultas médicas, e a titular da pasta se irritou: “Você não é obrigada a trabalhar, não.”
Roberta é professora de geografia no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Santa Bárbara, em Padre Bernardo, no Entorno do Distrito Federal. Desde 2018, ela atuava no Estado por meio de contrato. Em 2023, ela engravidou e tirou licença-maternidade, retornando em 2024. Em agosto, o filho dela, de 11 meses, precisou de uma consulta médica.
Por meio das redes sociais, Roberta relatou que soube da demissão quando chegou à escola. Informaram que o contrato dela estava vencido e foi rescindido. Segundo a professora, ela foi à Coordenação Regional de Águas Lindas, onde foi informada que o contrato havia sido rescindido em razão do tempo.
De acordo com ela, uma planilha foi mostrada com o nome de vários profissionais que estavam na mesma situação, porém o nome dela não estava na lista. A professora diz que foi informada de que o pedido de demissão veio direto do coordenador, que estava em reunião com a secretária de Educação.
Conforme Roberta, não houve contato ou retorno da secretaria de Educação, ninguém quis ouvi-la. No momento, somente o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) tem dado suporte, segundo ela.
Live polêmica
A secretária de Educação de Goiás, Fátima Gavioli, rebateu queixas de professores contratados sobre baixo salário e proibição de se ausentar do trabalho para acompanhar filho durante consulta médica. Os comentários foram feitos durante uma live realizada na quinta-feira (24/10), com toda a rede de ensino estadual.
Um dos profissionais reclamou que o problema referente à remuneração não era “sobre aumento, mas sobre passar fome”. A gestora da pasta, então, retrucou: “Aí tem que deixar o serviço. Está passando fome? Tem que achar um trabalho que ganha mais, porque na educação você já entrou sabendo quanto seria seu salário.”
Em outro momento, um professor reclamou que os profissionais contratados, sem concurso, não podem acompanhar o filho no médico. Fátima respondeu que ele “não é obrigado a trabalhar, não”.
“Se você for contrato e você acha que tem que ter emprego que te libera para ir ao médico, você precisa sair, porque a lei é federal”, afirmou a secretária. A gestora interrompeu a resposta e, se dirigindo a alguém que estava na sala presencialmente com ela, disse: “Não adianta mandar eu parar, vou terminar”.
Os vídeos têm repercutido negativamente entre a categoria. O coordenador do Observatório do Estado Social Brasileiro, Tadeu Alencar Arrais, disse que as falas da secretária são “pedagogia sádica”.
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc/GO) informou que, “conforme estabelecido pela Lei Estadual nº 20.918/2020, o prazo máximo de trabalho para contratos temporários na Rede Estadual de Educação é de até cinco anos. Após esse período, o contrato deve ser encerrado. No caso específico mencionado, a servidora em questão estava com o contrato vencido, motivo pelo qual foi desligada em atendimento a uma ação do Ministério Público de Goiás (MPGO), que, em junho de 2024, solicitou à administração estadual uma adequação às diretrizes legais”.
“Os desligamentos começaram após o encerramento do período eleitoral, de acordo com o calendário administrativo e os prazos das coordenações regionais, considerando o fechamento da folha de pagamento do estado. As rescisões seguem as regras da Consolidação da Leis Trabalhistas (CLT) que determinam a um período de 30 dias até o desligamento final. […] Cabe informar que sobre a servidora Roberta Silva foi aprovada no concurso público de 2022, para a Rede Estadual de Educação (com nota 65), para o município de Sítio D’Abadia, conforme sua opção no ato de inscrição. O chamamento dos aprovados está sendo realizado pela Secretaria de Administração do Estado de Goiás de acordo com as regras do edital”, completou a nota.