O Ozempic, inicialmente desenvolvido para o tratamento de diabetes tipo 2, tem ganhado popularidade em outra área: a perda de peso. Baseado na semaglutida, uma substância que regula a insulina e o apetite, o medicamento tem se tornado um dos mais procurados em clínicas e consultórios médicos por pessoas que buscam emagrecimento rápido. Esse novo uso, porém, desperta tanto interesse quanto preocupações.
A semaglutida, princípio ativo do Ozempic, age imitando um hormônio natural chamado GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1), que regula o apetite e controla os níveis de açúcar no sangue. Nos pacientes com diabetes tipo 2, o remédio ajuda a controlar a glicose, diminuindo a necessidade de grandes doses de insulina. No entanto, um dos efeitos colaterais observados foi a perda de peso, o que chamou a atenção de pessoas sem a doença, que passaram a buscar o medicamento como um “atalho” para emagrecer.
Especialistas em saúde alertam que o uso indiscriminado do Ozempic para perder peso pode trazer riscos. A endocrinologista Maria Santos explica que, embora o medicamento tenha mostrado eficácia em estudos controlados, ele não foi aprovado para emagrecimento no Brasil, exceto em doses específicas para quem tem obesidade grave. “O uso sem acompanhamento médico pode gerar efeitos adversos, como náusea, diarreia, dores abdominais e, em casos mais graves, pancreatite. Além disso, o tratamento exige controle rigoroso, e os resultados não são permanentes se não forem acompanhados por mudanças no estilo de vida”, afirma.
A popularização do uso off-label do Ozempic, ou seja, fora de sua indicação original, levantou um debate ético na comunidade médica. Para alguns profissionais, o remédio representa uma oportunidade de tratar o sobrepeso, que também é um fator de risco para a saúde. Por outro lado, há o receio de que o medicamento seja visto como uma solução milagrosa e seu uso sem orientação traga mais malefícios do que benefícios.
Adicionalmente, o aumento da demanda pelo Ozempic tem causado escassez nas farmácias, prejudicando pacientes que realmente dependem do medicamento para o tratamento do diabetes. “A falta do remédio impacta diretamente a saúde de quem necessita controlar a glicemia, colocando essas pessoas em risco”, ressalta João Medeiros, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Apesar do crescimento da procura por soluções rápidas de emagrecimento, especialistas recomendam cautela. “É importante que as pessoas entendam que não existe fórmula mágica. O emagrecimento saudável deve ser orientado por médicos, baseado em uma alimentação equilibrada, exercícios físicos e, em alguns casos, medicamentos adequados. O uso do Ozempic fora de suas indicações é um sinal de que precisamos repensar nossa relação com a saúde”, finaliza a nutricionista Clara Souza.
Para quem sofre de diabetes tipo 2, o Ozempic continua sendo uma ferramenta valiosa para o controle da doença, quando utilizado corretamente. No entanto, para aqueles que o buscam como método de perda de peso, o alerta dos especialistas é claro: o acompanhamento médico é fundamental, e o foco deve estar em uma abordagem equilibrada e sustentável.