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Ocupação urbana fora de controle explica desmoronamento em Gramado

Ministério Público investiga causas de desabamento no centro da cidade turística. Inquérito já alertava sobre deslizamentos há pelo menos uma década

O desmoronamento de um prédio de cinco andares e rachaduras em vários pontos da cidade de Gramado, na Serra gaúcha, são evidências mais expostas de uma situação de caos em que o município turístico se viu mergulhado nos últimos dias.

Na manhã de quinta-feira, 23, o Residencial Condado Ana Carolina, um prédio de apartamentos de luxo, desabou. O prédio que ficava na encosta do Vale do Quilombo, área verde com montes de quase um quilômetro, a cerca de 10 minutos do centro de Gramado, havia sido isolado no domingo após o aparecimento de rachaduras.

Ficava numa área disputada pelo mercado imobiliário que concentra pousadas e hotéis de luxo. A duas quadras do local onde ficava o edifício que desabou está um dos pontos turísticos de Gramado, o Lago Negro.
As causas ainda são investigadas por técnicos do município, do estado e de uma empresa contratada para fazer um laudo geológico. Há várias teorias para as rachaduras, como a declividade do terreno,instabilidade do solo e o excesso de chuva.

Somente nos sete dias que precederam o aparecimento das rachaduras na cidade de Gramado, a estação meteorológica registrou 291 mm em Canela. O volume representa o dobro da média histórica de precipitação de novembro inteiro na região de 144,5 milímetros.

Ocupação urbana desordenada
A ocupação urbana desordenada, sem fiscalização e tolerada pelo poder público, tem provocado problemas que afloram com os impactos da crise climática.

O município decretou estado de calamidade pública nesta sexta-feira, 24, mas a prefeitura sustenta que a zona turística do município não foi afetada. A programação prevista para o final do ano segue sem alterações.

Os pontos mais críticos na cidade são o bairro Três Pinheiros, que segue interditado pela erosão no solo e o risco de desmoronamentos, a Travessa das Azaléias, no bairro Planalto, o loteamento Orlandi na Várzea Grande, e a Rua Nelson Dinnebier no bairro Piratini.

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) está solicitando ao Judiciário a realização de audiência com presença de representantes da prefeitura do município.

O objetivo é debater as causas dos desmoronamentos ocorridos nos últimos dias e, em especial, cobrar do poder público uma explicação para a expansão desordenada das ocupações urbanas nas áreas de risco.

Atualmente, há vários pontos da cidade interditados, diversas famílias foram removidas de suas residências, principalmente no bairro Três Pinheiros.

Área sujeita a deslizamentos
O professor de Geociências da Ufrgs, Rualdo Menegat, esclarece que o desmoronamento do prédio ocorreu em encosta com mais de 30 graus de declividade, o que já oferece risco de deslizamentos.

“Houve intensa remoção de floresta, em área de preservação permanente (APP), o que aumenta o risco. A grande quantidade de chuva carregou o solo de água, aumentando o peso e diminuindo a sua coesão, gerando um sistema de planos de ruptura na cabeceira do deslizamento da encosta ao longo de mais de 30 metros. Toda essa região a jusante dessas rachaduras está propensa ao colapso”, explica o pesquisador.

Menegat alerta que as encostas da região são formadas por rochas vulcânicas, com grande fraturamento vertical, o que contribui para a fragilidade dos terrenos.

 

 

Evi Goffin

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