As microagressões no ambiente de trabalho permanecem um desafio para líderes que buscam harmonia entre colaboradores. Um estudo da McKinsey & Company aponta que, além da desigualdade de gênero, as mulheres enfrentam um número significativo de microagressões. Esse cenário é agravado por lideranças tóxicas, assédio e cargas de trabalho excessivas.
Pesquisa com dados e cases foram apresentados no 1º dia do 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, realizado neste mês, em São Paulo, pelo Instituto Internacional de Segurança Psicológica (IISP).
Nesse contexto, o Estudo 2023 – Canal de Denúncias da IAUDIT Tecnologias revela que 41,64% dos entrevistados relataram experiências de assédio moral, abuso de poder, agressão física e desvios de comportamento no ambiente corporativo. Além disso, o levantamento indica que 46% dos denunciantes identificam especificamente o funcionário responsável pelo ato, com 37,61% dos denunciados sendo líderes, supervisores ou encarregados.
Patrícia Ansarah, fundadora do Instituto de Segurança Psicológica (IISP) e organizadora do Summit, destaca que a segurança psicológica no ambiente de trabalho depende também da compreensão de temas frequentemente delicados. “Microagressões, embora sutis, podem afetar profundamente o bem-estar emocional dos colaboradores, enquanto o assédio é uma forma mais intensa e prejudicial de comportamento inadequado. É crucial que as organizações cultivem uma cultura de respeito e empatia, promovendo diálogos abertos sobre essas questões. Dessa forma, poderemos criar um ambiente de trabalho mais seguro, onde todos se sintam valorizados e respeitados”, conclui.
Um dos painelistas no evento, o professor, pesquisador e especialista em temas relacionados ao significado do trabalho, Alexandre Pellaes, destaca que as microagressões se manifestam por meio de pequenas atitudes, comentários e comportamentos. Segundo ele, esses atos, acumulados ao longo do tempo, comprometem a saúde mental e a capacidade de ação.
“Essas violências não se limitam às estruturas organizacionais, elas aparecem nas interações diárias entre colegas, líderes e subordinados, muitas vezes resultantes de escolhas e ações individuais”, destaca.
Segundo um levantamento apresentado por Alexandre, algumas dinâmicas ocultas podem revelar exemplos de microagressões e seus impactos no cotidiano. Um exemplo é o elogio em público seguido de sabotagem em particular. “O chefe aparenta apoiar um funcionário, mas age contra ele nos bastidores”, explica. Outra forma de microagressão é a imposição de autoridade com base no cargo, ignorando a competência e o conhecimento em favor do status. Além disso, a criação de um “glamour” em torno da sobrecarga de trabalho também entra nessa lista. “Isso acontece quando a empresa ou o chefe valoriza aqueles que trabalham até tarde, fomentando uma cultura de exaustão”, detalha.
No estudo, ele também destaca a diferença de tratamento entre pessoas com contribuições iguais, a mistura de relações sociais com desempenho profissional e a falta de respeito durante apresentações, como quando alguém se distrai olhando memes no celular. “Isso demonstra desrespeito pelo tempo e pela intenção de trabalho dos outros”, explica. Além disso, Alexandre aponta que o uso de apelos emocionais para obter vantagens é outra forma de microagressão, seja quando funcionários se apresentam como vítimas ou quando a empresa promove uma imagem de “família”.
Impacto das palavras
O especialista observa que, ao identificar os fatores que afetam a segurança psicológica, muitos aspectos ainda obscuros podem ser desmistificados.
“Existe muito daquilo que não é dito. À medida que abordamos esses temas, espera-se que se torne mais comum discutir questões como essa, fundamentando-se na fala e na escuta”, afirma.
Vivian Rio Stella, doutora em linguística e também painelista no 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, compartilha essa perspectiva ao destacar o impacto das palavras nas decisões e relações corporativas.
“Nas empresas, silêncios comunicam muitas coisas. Há um grande número de coisas não ditas por medo de retaliação, olhares enviesados ou interpretações. É fundamental discutir os silêncios que foram normalizados”, enfatiza.
Ela também ressalta a importância de diferenciar microagressões de assédio. Enquanto o assédio é definido de forma normativa, a noção de microagressão começou a ser discutida há cerca de 40 anos.
“A microagressão é o que passa do pensamento para a ação. A diferença reside na intenção e no modo de agir. O assédio, por sua vez, é caracterizado pela intensidade da ação, que pode se manifestar em frequência e tom mais agressivo”, explica.
A jornalista, palestrante e pesquisadora de temas que envolvem saúde mental, Izabella Camargo, mediadora do painel no Summit, ressalta a importância da segurança psicológica no ambiente de trabalho, enfatizando que, embora a liderança tenha um papel fundamental em promovê-la, a participação de todos é crucial.
“A segurança psicológica começa com a liderança, mas todos precisam falar. Cabe a nós, que estamos criando a cultura da nossa empresa, trabalhando para algum lugar, já dizer que aquilo se trata de um trabalho. Trabalho não é a família. Por isso, é importante observar que conversa estamos repetindo, que linguagem estamos usando. É preciso pensar em tudo isso”, conclui.
Sobre Patrícia Ansarah
Precursora do conceito de segurança psicológica no Brasil, a psicóloga organizacional Patricia Ansarah – com mais de 20 anos atuando em RH e como executiva de grandes empresas – criou o instituto Internacional de Segurança Psicológica (IISP), a primeira entidade voltada exclusivamente ao tema em território nacional, para endossar o pioneirismo e dar visibilidade ao tema no Brasil e levar soluções integradas por meio da segurança psicológica para o desenvolvimento de times e organizações.
Sobre Alexandre Pellaes
Professor e pesquisador em Psicologia Organizacional pela USP, especialista em temas relacionados ao significado do trabalho, com mais de 20 anos de experiência em gestão e liderança. É palestrante TEDx e colunista da UOL Economia, foca no desenvolvimento de relações de trabalho humanizadas e autônomas.
Sobre Vivian Rio Stella
Doutora em Linguística pela Unicamp, com pós-doutorado pela PUC-SP. Professora da Aberje, da Casa do Saber, de cursos de extensão da Cásper Líbero e de MBA da FIA. Idealizadora da VRS Academy, onde atua como curadora, professora e pesquisadora.
Sobre Izabella Camargo
Jornalista, palestrante e escritora, é reconhecida por sua atuação na comunicação e saúde integral, com ênfase em saúde mental, Síndrome de Burnout, bem-estar no ambiente de trabalho e longevidade. É autora do livro “Dá um tempo! Como o Burnout mudou minha vida” e curadora de conteúdos sobre saúde integral.
Sobre o Instituto Internacional em Segurança Psicológica
O Instituto Internacional em Segurança Psicológica (IISP) é uma organização lançada com o propósito de apoiar empresas corajosas a liderar a transformação do jeito de fazer negócios, preparando a liderança para uma gestão mais consciente e humana, por meio da Segurança Psicológica.
Precursora do conceito de Segurança Psicológica no Brasil, a psicóloga organizacional Patricia Ansarah – com mais de 20 anos atuando em RH e como executiva de grandes empresas – criou o instituto para endossar o pioneirismo e dar visibilidade ao tema no Brasil e levar soluções integradas por meio da segurança psicológica para o desenvolvimento de times e organizações.