Medo de ficar doente pode aumentar hipocondrismo na pandemia
O Brasil é o país em que as pessoas mais buscam no Google por temas relacionados à saúde, segundo dados de pesquisa realizada pela própria empresa. A pesquisa ainda revela que 26% dos brasileiros recorrem primeiro à plataforma ao se deparar com um problema de saúde, em vez de buscar imediatamente ajuda médica.
Essa é uma das práticas que podem estar relacionadas a uma condição psíquica chamada hipocondria, que acomete mais de 150 mil pessoas por ano no Brasil, de acordo com o Hospital Albert Einstein (São Paulo).
A psiquiatra do Sistema Hapvida, Darlla Oliveira, explica que a hipocondria é uma condição psicológica em que o indivíduo apresenta um medo exagerado de estar com alguma doença grave, passando a assumir práticas compulsivas em resposta a isso, como pesquisar na internet as causas para qualquer manifestação estranha no organismo e acreditar na pior possibilidade, ir muitas vezes ao médico, visitar médicos diferentes da mesma especialidade, fazer uso de diversos medicamentos mesmo sem recomendação, fazer muitos exames, ou o contrário, o medo de receber um diagnóstico grave e, assim, evitar consultas, exames de rotina ou mesmo se vacinar.
“O transtorno hipocondríaco, ou transtorno de ansiedade por doenças, é um medo exagerado de contrair ou de receber o diagnóstico de uma doença muito grave. Geralmente, consideramos um quadro de hipocondria quando a sensação dura por mais de seis meses”, explica a psiquiatra. “Pacientes hipocondríacos têm um nível de ansiedade extremo com relação ao próprio corpo, à própria saúde. Mesmo quando não recebem o diagnóstico que imaginam ter, eles tendem a duvidar e insistir na busca por novos exames. Outros já têm um medo enorme de descobrir alguma doença que evitam ir ao médico a qualquer custo”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a dor de cabeça, por exemplo, é um dos sintomas mais comuns em todo o mundo, afetando 75% da população adulta no planeta. Mas, para um hipocondríaco, apresentar um sintoma como esse já seria motivo para uma preocupação exagerada, o que pode, inclusive, desencadear problemas de fato: “esse paciente costuma desenvolver diversas patologias na área da psiquiatria, principalmente aquelas relacionadas aos transtornos de ansiedade”, alerta a médica.
Em razão da pandemia do novo coronavírus, pessoas que não tinham características muito intensas de hipocondria passaram a ter, enquanto outras passaram a sofrer com o agravamento do problema. Darlla explica como este cenário tem colaborado com o hipocondrismo: “Nesse momento de pandemia, existe um estímulo tremendo e negativo que faz com que o paciente hipocondríaco, que já gosta de buscar informações a respeito de doenças, busque cada vez mais informações e notícias sobre a doença e as mortes que vêm acontecendo, intensificando o seu problema”.
Por esse motivo, pessoas nessa condição precisam buscar ajuda psicológica para reverter o problema que elas de fato têm, e assim ter mais qualidade de vida no dia a dia. “O tratamento da hipocondria é multiprofissional. O médico psiquiatra pode indicar medicamentos que melhorem o funcionamento da serotonina no sistema nervoso central, fazendo com que o paciente tenha menos sintomas ansiosos. E o psicólogo, por sua vez, através da psicoterapia, pode fazer com que o paciente entenda que nem todos os sintomas físicos que ele pode vir a ter são, necessariamente, de uma doença grave”, explica a psiquiatra.