Gaza: Cerca de 1,1 milhão de pessoas podem enfrentar nível mais severo de fome até maio

Trabalhadores humanitários alertam para crise e relatórios indicam aumento da insegurança alimentar; secretário-geral da ONU, António Guterres, apela por um cessar-fogo imediato e acesso humanitário total; operação em Rafah e nova invasão no hospital Al-Shifa preocupa OMS

Trabalhadores humanitários da ONU emitiram um alerta preocupante, indicando que a fome pode surgir “a qualquer momento” em Gaza, conforme novos dados de insegurança alimentar. O relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, revela que a fome deve atingir as províncias do norte entre o momento atual e maio.

Os dados do relatório de Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar, IPC, indicam que “toda a população” de Gaza, cerca de 2,3 milhões de pessoas, está enfrentando altos níveis de insegurança alimentar “aguda”. Isso inclui 1,1 milhão de pessoas que sofrem de insegurança alimentar “catastrófica”.

Segurança alimentar

O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou a jornalistas nesta segunda-feira e avaliou que este “desastre é inteiramente causado pela ação humana” e é uma evidência chave da necessidade de um cessar-fogo imediato no enclave.

Ele fez um apelo às autoridades israelenses pela garantia de acesso total e irrestrito de produtos humanitários em Gaza e que a comunidade internacional apoie totalmente nossos esforços humanitários.

Em comparação com a última análise do IPC em dezembro, a insegurança alimentar aguda na Faixa de Gaza “se aprofundou e se ampliou”. Os dados revelam haver 79% a mais de habitantes de Gaza provavelmente “caindo em níveis catastróficos de fome” de meados de fevereiro a meados de março, e 92% a mais de expectativa de que isso aconteça até julho.

© UNICEF/Eyad El Baba
Menina em frente ao seu abrigo na cidade de Rafah, em Gaza

Pulando refeições

O relatório do IPC observou que praticamente todas as famílias agora diminuem o número de refeições diariamente em Gaza. Os adultos reduziram o consumo alimentar para que as crianças possam comer.

Segundo a FAO, nas províncias do norte, em quase dois terços dos lares, as pessoas passaram dias e noites inteiros sem comer pelo menos 10 vezes nos últimos 30 dias. Nas províncias do norte, uma em cada três crianças com menos de dois anos de idade está gravemente desnutrida.

Na última semana, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, alertou que a desnutrição com risco de morte é um problema que afeta a vida das crianças.

Sem fim para os bombardeios

Em meio ao intenso bombardeio israelense em Gaza, a FAO observou que a violência interrompeu o fornecimento de água, alimentos e combustível. Todos os setores relacionados a alimentos “entraram em colapso”, incluindo a produção de vegetais, a produção de gado, a pesca e a aquicultura.

Cerca de 60% a 70% dos animais que produzem carne e laticínios em Gaza foram mortos ou abatidos prematuramente para atender às terríveis necessidades alimentares decorrentes do conflito.

Para ajudar os habitantes de Gaza, a FAO se mobilizou para fornecer suprimentos agrícolas essenciais para a Faixa de Gaza “assim que as condições permitirem”. A agência da ONU disse que sua prioridade inicial era transportar ração animal, incluindo 1,5 mil toneladas de cevada.

Segundo a FAO, o volume “deve ser suficiente para fornecer leite para todas as crianças com menos de 10 anos de idade em Gaza”, observando que ela forneceria cerca de 20% das calorias recomendadas para as crianças.

Unicef/Eyad El Baba
Familiar cuida de menino de três anos no Hospital Al-Shifa, ferido numa explosão que matou 12 membros da sua família.

Operação no Al-Shifa

Em meio a relatos de que os militares israelenses invadiram o hospital Al-Shifa na cidade de Gaza nesta segunda-feira em busca de combatentes do Hamas, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus, insistiu que “os hospitais nunca devem ser campos de batalha”.

As vidas de profissionais da área médica, pacientes e civis estão em jogo, alertou o chefe da OMS, acrescentando que os serviços de saúde “mínimos” só foram restaurados recentemente em Al-Shifa.

Em uma postagem na mídia social no fim de semana, o chefe da OMS, Tedros, expressou preocupação com a continuidade dos preparativos para um ataque terrestre israelense a Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, onde mais de 1 milhão de pessoas buscam abrigo.

Para Tedros, uma nova escalada de violência nessa área densamente povoada levaria a muito mais mortes e sofrimento, especialmente com as instalações de saúde já sobrecarregadas.

De acordo com a autoridade de saúde de Gaza, 31.726 pessoas já foram mortas na Faixa de Gaza e 73.792 ficaram feridas desde o início dos combates.

As informações são da ONU por meio do https://news.un.org/.

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