Na semana passada o Tinder anunciou que vai expor os antecedentes criminais dos crushes como forma de tentar reduzir golpes e, principalmente, casos de violência contra mulheres que acontecem nos encontros promovidos pelo aplicativo. Num primeiro momento a medida foi recebida com efusividade no mundo todo. Quem não quer segurança nos encontros, não é mesmo? Porém, olhando com calma, existem muitas perguntas que precisam ser respondidas antes da gente comemorar. Eu diria que é preciso analisar muito bem o custo benefício da medida para ver se o (caro) preço social a ser pago vai se refletir em diminuição real da violência.
Já sabemos que a Garbo, organização sem fins lucrativos que está auxiliando o Tinder e disponibilizará as informações, não vai colocar na roda crimes como consumo, porte e venda de drogas. A preocupação social é bacana, e a ONG justifica que isso protege a comunidade negra, comumente alvo das políticas antidrogas. Mas e os crimes pequenos em que as pessoas já cumpriram pena, estarão lá expostos? Parece que sim. Do ponto de vista dos direitos humanos isso não é bacana. Pensem em alguém que furtou um produto num supermercado, foi julgado, condenado e já cumpriu a pena. Seguir expondo esse crime depois que a pessoa já pagou por ele é um tipo de violência, é uma nova punição que, se não contida, perseguirá a pessoa para sempre. Acaba sendo uma punição social eterna. E se a informação de que a pessoa furtou porque estava passando fome estiver exposta, um tanto pior. Seria a exposição pública de uma questão íntima que ela pode não querer compartilhar com seus crushes.
Muitos especialistas veem a exposição da ficha criminal de quem já cumpriu a pena como uma nova punição – e não só no caso do Tinder. Mas esse seria um tipo “exposing”, como se fala na web, que causaria ainda mais preconceito com egressos do sistema prisional.
Outra questão levantada por um advogado foi: com que periodicidade esse banco de dados vai ser atualizado com informações da justiça? Revisões criminais acontecem o tempo todo, inclusive depois da condenação. A justiça erra e novas provas aparecem. Isso será contemplado? E se sim, será que depois que já foi exposto, a reviravolta terá algum efeito em limpar a barra? Aqui entra também a problemática dos prints de tela, aqueles que ficam eternizados na web gerando custo emocional altíssimo e podem virar até caso de justiça.