Saúde

Entenda estudo que associa uso de medicamentos para dormir à demência

Estudo mostra que medicamentos para dormir e antidepressivos podem afetar a cognição das pessoas, aumentando risco de desenvolver demência

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, sugere que alguns medicamentos para dormir podem aumentar o risco de demência.

O tipo de remédio e a quantidade usada são fatores importantes para explicar o risco maior, segundo mostrou a pesquisa publicada no Journal of Alzheimer’s Disease, em 2023.

A pesquisa não estabelece relação direta de causa e efeito entre a demência e o uso de medicamentos para dormir, mas, observando a saúde dos voluntários a longo prazo, o estudo aponta que os remédios podem estar associados a maior ocorrência de demência em um grupo específico de pessoas: os idosos brancos.

Medicamentos para dormir e demência

Para estudar os efeitos dos medicamentos, os pesquisadores acompanharam o estado de saúde de aproximadamente 3 mil idosos sem diagnóstico de demência por cerca de nove anos. Os participantes tinham, em média, 74 anos, e 58% deles eram brancos e 42%, negros.

Durante o estudo, 20% dos idosos desenvolveram demência. Os pesquisadores descobriram que pessoas brancas tinham três vezes mais probabilidade do que as negras de tomar medicamentos para dormir “frequentemente” (de cinco a 15 vezes por mês), ou “quase sempre”, com uso entre 16 vezes por mês a diariamente.

Participantes brancos que “frequentemente” ou “quase sempre” tomavam medicamentos para dormir apresentaram um risco 79% maior de desenvolver demência em comparação com aqueles que “nunca” ou “raramente” os usavam.

Entre as pessoas negras, o uso de soníferos era significativamente menor. A probabilidade de desenvolver demência foi semelhante entre os usuários frequentes e aqueles que não usavam ou raramente tomavam os medicamentos.

Tipo de medicamento

Os dados mostraram que as pessoas brancas tinham quase duas vezes mais probabilidade de usar benzodiazepínicos – prescritos para insônia crônica –, como Halcion (triazolam), Dalmadorm (flurazepam) e Restoril (temazepam).

Elas também tinham 10 vezes mais probabilidade de tomar o antidepressivo Donaren – que também é frequentemente prescrito para dormir – e sete vezes mais probabilidade de tomar Zolpidem, um sedativo-hipnótico.

O Zolpidem é um não benzodiazepínico de curta duração que é usado no tratamento de insônia, mas também pode fazer parte da terapia para lidar com transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade. O remédio é bem tolerado e seguro, mas, quando usado fora de acompanhamento médico, o paciente pode sofrer efeitos colaterais como alucinações, sonambulismo, amnésia, compulsão por compras ou comida, entre outros.

A principal autora da pesquisa, Yue Leng, do departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UCSF e do Instituto Weill de Neurociências da UCSF, acredita que o status socioeconômico pode estar por trás das diferenças de uso entre brancos e negros dos EUA.

“Participantes negros que têm acesso a medicamentos para dormir podem ser um grupo seleto com alto status socioeconômico e, portanto, maior reserva cognitiva, tornando-os menos suscetíveis à demência”, considera.

Repense o uso de medicamentos para dormir

Yue Leng recomenda que, antes de iniciar o uso de medicamentos para dormir, o paciente tente identificar a causa e o tipo do problema.

“Um teste de sono pode ser necessário se a apneia for uma possibilidade. Se a insônia for diagnosticada, a terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-i) é o tratamento de primeira linha. Se for usada medicação, a melatonina pode ser uma opção mais segura, mas precisamos de mais evidências para compreender o seu impacto a longo prazo na saúde”, afirmou a pesquisadora, em entrevista ao site da universidade.

Evi Goffin

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