As eleições são, teoricamente, o período em que a precisão e o discernimento deveriam ser mais aguçados. A ideia é que, ao escolher um candidato, deveríamos estar especialmente atentos para separar fatos de mentiras e fazer uma escolha bem informada.
No entanto, um estudo recente revela um fenômeno intrigante: quanto mais próxima a eleição, mais nossas posições político-partidárias influenciam nossa percepção da verdade.
O artigo intitulado “Crenças sobre Notícias Políticas no Período que Antecede uma Eleição”, de Charles Angelucci, Michel Gutmann e Andrea Prat, explora como a proximidade de uma eleição pode amplificar o viés partidário.
Baseado em dados de pesquisas realizadas durante e fora da eleição presidencial dos EUA de 2020, o estudo demonstra que a capacidade de discernir entre notícias verdadeiras e falsas é significativamente prejudicada durante os períodos eleitorais.
Os pesquisadores encontraram que, fora da época eleitoral, um indivíduo tem 4% mais chances de selecionar uma notícia verdadeira se ela favorecer seu partido. No entanto, à medida que a eleição se aproxima, essa probabilidade aumenta para 11%.
Esse aumento revela que, em vez de estarmos mais atentos à veracidade das informações durante as eleições, tendemos a nos deixar levar ainda mais pelos nossos vieses partidários.
Essa tendência é corroborada por outros estudos que mostram que incentivos financeiros, mesmo que pequenos, podem aumentar significativamente a precisão das avaliações. Em experimentos, oferecer uma recompensa monetária para respostas corretas levou os participantes a se esforçarem mais e a cometerem menos erros.
Contudo, no contexto eleitoral, onde a motivação para buscar a verdade deveria ser alta, o viés partidário prevalece. Quando questionados sobre notícias políticas, os indivíduos tendem a acreditar mais em informações que corroboram suas crenças pré-existentes e menos em notícias que desafiam seu partido, amplificando o viés.
O estudo revela que, fora do período eleitoral, o viés partidário é evidenciado na forma como os eleitores interpretam informações: eles são mais propensos a aceitar notícias que favorecem seu partido e a descartar notícias que o desfavorecem.
No entanto, antes de uma eleição, essa tendência se intensifica, com uma diferença de até 17 pontos percentuais na percepção da veracidade das notícias. Isso sugere que, embora a política seja um campo de alta relevância, a proximidade das eleições exacerba a influência do partidarismo, prejudicando o discernimento.
Em vez de buscar dados objetivos, muitos de nós, movidos por interesses partidários, acabamos reforçando nossas crenças pré-existentes. Compreender essa dinâmica é essencial para aprimorar nosso próprio discernimento e, consequentemente, a qualidade das nossas escolhas eleitorais.
Reconhecer e mitigar nossos próprios vieses pode ajudar a cultivar uma atitude mais crítica e informada, crucial para fortalecer a integridade do processo democrático. Afinal, ninguém quer votar ou deixar de votar em algum candidato baseado em engano.