
O Amazonas registrou 604 casos de violência contra a mulher em 2024, ocupando o terceiro lugar entre os estados com o maior número de ocorrências desse tipo, ficando atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo. Os dados são do relatório “Elas Vivem 2025: um caminho de luta”, divulgado na quinta-feira (13) pela Rede Observatórios de Segurança.
O levantamento revela que a violência contra a mulher no Amazonas, incluindo agressões físicas, violência sexual e feminicídios, supera até estados mais populosos como Bahia e Pernambuco. Foram 33 feminicídios no estado, 15 dos quais cometidos por parceiros ou ex-parceiros, evidenciando que a violência familiar segue sendo a principal ameaça para as mulheres.
A nível nacional, o relatório aponta um aumento de 12,4% nos registros de violência contra a mulher em relação a 2023, com um total de 4.181 vítimas. Esse número representa uma média de 13 mulheres agredidas a cada 24 horas nos nove estados monitorados pela pesquisa (AM, BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP).
Entre os dados mais alarmantes, o levantamento revela que 70% dos feminicídios no Brasil são cometidos por companheiros ou ex-companheiros. Além disso, foram registrados 12 casos de transfeminicídio em 2024.
De acordo com a delegada Patrícia Leão, titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM), a violência doméstica não tem um perfil fixo entre as vítimas ou agressores. “Não existe um padrão, qualquer mulher pode ser vítima de violência de gênero, independentemente de classe social, cor ou escolaridade”, explicou a delegada. Ela também destacou que muitos feminicídios ocorrem dentro de casa, o que representa um risco constante para as vítimas.
O relatório também expõe a vulnerabilidade de crianças e adolescentes, com 84,2% das vítimas de violência sexual tendo entre 0 e 17 anos. O especialista em segurança pública, coronel Amadeu Soares, afirmou que a violência contra menores ocorre principalmente no ambiente familiar e deve ser tratada de forma transversal, com apoio psicossocial e monitoramento de famílias em situações de risco.
Um caso chocante ocorrido em fevereiro em Tefé ilustra a gravidade da situação. Um homem de 30 anos foi preso após matar sua companheira com golpes de terçado e tentar encobrir o crime como suicídio. Durante a investigação, descobriu-se que o agressor também abusava de sua enteada de 13 anos, que estava grávida.
Um dos maiores desafios no combate à violência doméstica, de acordo com a delegada Patrícia Leão, é a subnotificação dos casos, já que muitas vítimas não denunciam por medo, vergonha ou dependência emocional e financeira. A delegada reforça a importância da denúncia para interromper o ciclo de violência, destacando o número 180 como um canal essencial de ajuda e orientação para as mulheres vítimas de violência.
A Rede de Observatórios da Segurança, responsável pela coleta e análise desses dados, é uma iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que visa monitorar políticas públicas e fenômenos de violência em nove estados do Brasil, com foco na produção cidadã de dados sobre segurança e direitos humanos.