Estudo inédito revela que um terço dos adolescentes já sofreu agressão virtual
Mapeamento realizado com mais de 8 mil adolescentes brasileiros destaca padrões de vulnerabilidade, comportamento on-line e a relação entre proteção e segurança no ambiente digital
Cerca de 50 milhões de brasileiros são crianças, adolescentes e jovens (até 19 anos), de acordo com o Censo 2022. Para entender seus comportamentos digitais e os desafios enfrentados no ambiente on-line, o ChildFund Brasil lança a primeira etapa (quantitativa) de uma pesquisa quanti-quali inédita, intitulada Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, que possui foco na violência sexual virtual. O estudo foi realizado com 8.436 estudantes, principalmente de escolas públicas e majoritariamente das regiões Nordeste e Sudeste.
A pesquisa explora duas formas de violência sexual on-line: com interação e sem interação com um agressor. Entre os principais achados, está o fato de que um terço dos adolescentes e jovens que participaram da pesquisa já sofreram algum tipo de violência sexual online e cerca de 12% são vítimas de duas ou mais formas. O tempo que os adolescentes passam por dia interagindo em ambientes on-line, trocando mensagens e jogando, principalmente em telefones celulares, é em média de quatro horas, sem considerar o uso em atividades escolares. Além disso, o estudo revelou que 20% dos adolescentes afirmam ter interagido com uma pessoa desconhecida e suspeita.
Entre os aplicativos utilizados durante casos de violência, 55% dos adolescentes que tiveram interação com agressores usaram o Whatsapp e o Telegram. Os agressores são, principalmente, do gênero masculino e 14% das interações são com agressores que residem na mesma cidade da vítima.
“Entender os padrões de comportamentos e desvendar os fatores relacionados a violência sexual on-line de adolescentes ajuda na formulação de políticas públicas eficazes e oferece a possibilidade de priorizar estratégias”, afirma Mauricio cunha, diretor de país do ChildFund Brasil, organização com mais de 58 anos de atuação no país em defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Para mitigar esses casos com intervenções, o estudo, ainda que ofereça informações valiosas para gestores e poder público, revela que não existe um comportamento uniforme que permita o desenho de uma política pública única e geral. Fatores como a faixa etária, gênero, localidade, mecanismos de proteção e aplicativo utilizado, devem ser utilizados, sendo a idade o ponto focal da elaboração, pois a quantidade de aplicativos e horas conectados diferem de acordo com a idade.
Proteção on-line é aliada na diminuição dos casos
O estudo identificou quatro perfis de incidência da violência sexual online, sendo nenhuma, baixa, muito alta e extremamente alta. Os dois últimos estão relacionados a formas de violência sexual on-line onde há interação direta um agressor, em casos de, por exemplo, a solicitação de conteúdo explícito ou videochamadas. Alguns fatores comportamentais, como o uso de aplicativos e características do agressor, são correlacionados com o perfil da incidência da violência, sugerindo que limitar a exposição a certas plataformas reduz os riscos de violência sexual online de adolescentes.
O horário também é um fator que influencia no sentimento de insegurança, sendo que à noite e à madrugada são mais comuns dos jovens se sentirem desprotegidos (88%), principalmente nos jogos virtuais. Quanto mais tempo o jovem fica virtualmente conectado, maiores são os sentimentos e sensações de insegurança, pois o tempo de exposição aumenta. O estudo ainda revelou que a quantidade de aplicativos e horas crescem de acordo com a idade, sendo que os adolescentes de 17 e 18 anos que usam mais de um aplicativo têm 8.09 vezes mais chances de serem vítima de violência sexual com interação virtual.
“Entender as tendências é uma forma de conseguir agir. Nós do ChildFund Brasil acreditamos que algumas das maneiras de fazer isso é a educação digital para pais e adolescentes sobre os riscos on-line; monitoramento parental ativo, associado a diálogos constantes com os adolescentes e, principalmente, a implementação de mecanismos que favoreçam a proteção integral no ambiente digital, indo além de medidas paliativas”, ressalta o diretor de país da organização.
Pessoas do sexo feminino foram a maioria entrevistada
O estudo utilizou dados que descrevem as características demográficas, comportamentais e de violência sexual on-line, com a coleta de dados gerais e comportamentais. Os dados foram coletados pelo ChildFund Brasil em parceria com escolas públicas e privadas dentro do escopo do projeto, e o período de coleta foi finalizado em 30 de setembro de 2024.
“Precisamos evidenciar que a violência sexual contra crianças e adolescentes na internet é um problema social de grande escala. Nós temos nos dedicado a atuar na linha do advocacy com base em dados, que são fundamentais tanto para subsidiar políticas públicas quanto para orientar nosso trabalho”, destaca Águeda Barreto, coordenadora de advocacy do ChildFund Brasil.
Águeda ainda destaca a importância da identificação de alguns dados. “A pesquisa foi desenvolvida porque encontramos uma carência significativa de informações que sustentem nossas ações. Investigamos comportamentos, experiências com abordagens indesejadas, plataformas e aplicativos que transmitem maior ou menor sensação de segurança, o tempo de uso da internet, acesso à educação digital e a relação com as famílias sobre os perigos da web. Esses dados são um passo para ampliar a conscientização e orientar ações preventivas”, afirma.
Sobre o ChildFund Brasil
O ChildFund Brasil é uma organização que atua no desenvolvimento integral e na promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, para que tenham seus direitos respeitados e alcancem o seu potencial. A fundação no Brasil foi em 1966, e sua sede nacional se localiza em Belo Horizonte (MG). A organização faz parte de uma rede internacional associada ao ChildFund International, presente em 23 países e que gera impacto positivo na vida de 14,8 milhões de crianças e suas famílias; e está entre as 25 melhores organizações do Brasil, segundo o ranking emitido pela The Dot Good, foi eleita a melhor ONG de assistência social do Brasil em 2022 e a melhor para Crianças e Adolescentes do país, por três anos (2018, 2019 e 2021), pelo Prêmio Melhores ONGs.